fonte: Geografia Geral e do Brasil, Sene e Moreira
As novas relações campo x cidade:
A produção agrícola é obtida em condições muito heterogêneas no mundo. Das diversas formas de relação entre o homem e o meio geográfico, a vida rural, e mesmo a vida da população urbana que trabalha em atividades agrícolas, é a mais diversificada. Os países desenvolvidos e industrializados intensificaram a produção agrícola por meio da modernização das técnicas empregadas, utilizando cada vez menos mão de obra. Nos países subdesenvolvidos, foram principalmente as regiões agrícolas que abastecem o mercado externo que passaram por semelhante processo de modernização das técnicas de cultivo e colheita. Em contrapartida, houve o êxodo rural acelerado, que promoveu o drástico empobrecimento dos trabalhadores agrícolas, concentrados na periferia das grandes cidades. Por outro lado, todas as regiões em que se utilizam métodos tradicionais de produção - principalmente dos países pobres do Sudeste asiático e a maioria dos países africanos - buscam ainda meios de associar um modo de vida rural extremamente rudimentar às incertezas biogeográficas e climáticas, na tentativa de evitar o flagelo da fome e as adversidades da emigração.
O planeta apresenta países e regiões onde os progressos técnicos nos sistemas de transporte e comunicações estão plenamente materializados em redes ou sistemas de transportes de pessoas, mercadorias e informações que lhes permitem partir para uma política agrícola e industrial de especialização produtiva. Regiões ricas e modernizadas garantindo maiores taxas de lucro. Buscam em outras regiões o que não produzem internamente. Essa realidade intensificou o comercio mundial. Por outro lado, as regiões pobres e tecnicamente atrasadas se vêem obrigadas a consumir basicamente o que produzem e são muito mais sensíveis aos rigores impostos pelas condições naturais, nem sempre favoráveis à produção agrícola. A conseqüência imediata dessa situação é a fome.
Nos países em que predomina o trabalho agrícola, utilizando mão de obra urbana e rural, o papel do estado na regulamentação das relações de trabalho, do acesso a propriedade da terra e da política de produção, financiamento e subsídios agrícolas assume importância fundamental no combate a fome.
As políticas modernas de reforma agraria visam a integração dos trabalhadores agrícolas e dos pequenos e médios proprietários nas modernas técnicas de produção, e não apenas distribuir terras aos camponeses e abandona-los a concorrência com produtores rurais altamente capitalizados, sejam eles do próprio país ou do exterior. A reforma agraria não é mais sinônimo de expropriação ou estatização das propriedades rurais para distribui-las aos camponeses. Mais que isso, principalmente em países subdesenvolvidos, trata-se de reformar a estrutura fundiária e as relações de trabalho, buscando o estabelecimento de propriedades na produção. Em primeiro plano, visa ao abastecimento do mercado interno de consumo. As outras metas são o abastecimento de matérias primas às indústrias, o aumento do ingresso de capital, através das exportações, e a criação de uma legislação que impeça a especulação sobre a propriedade da terra.
Atualmente, observa-se a tendência a penetração do capital agro-industrial no campo, tanto nos setores voltados ao mercado externo quanto ao mercado interno. Assim, a produção agrícola tradicional tende a se especializar, não para concorrer com o mais forte, mas para produzir a matéria prima utilizada pela agroindústria. Dependendo da ação do estado como agente regulador, essa penetração pode levar a democratização econômica ou à deterioração das condições de vida da população local, seja ela rural ou urbana.
Foi-se o tempo em que a economia rural comandava as atividades urbanas. Atualmente, o que se verifica, em escala planetária, é a subordinação do campo à cidade, uma dependência cada vez maior das atividades agrícolas às máquinas, insumos, agrotóxicos, tecnologia, fatores concebidos e produzidos nas cidades industriais.
Vamos agora estudar os diversos sistemas que compõem o mosaico internacional de produção agrícola.
Os sistemas agrícolas
Os sistemas agrícolas e a produção pecuária podem ser classificados como intensivos ou extensivos. Essa noção esta ligada ao grau de capitalização e ao índice de produtividade, independentemente da área cultivada ou de criação. As propriedades que, através da utilização de modernas técnicas de preparo do solo, cultivo e colheita, apresentam elevados índices de produtividade e conseguem explorar a terra por um longo período de tempo, praticam agricultura intensiva. Já as propriedades que se utilizam da agricultura tradicional - aplicação de técnicas rudimentares, apresentam baixo índice de exploração da terra e obtendo, assim, baixos índices de produtividade - praticam agricultura extensiva.
Na pecuária, por exemplo, o rendimento é avaliado pelo número de cabeças por hectare. Quanto maior a densidade de cabeças, independentemente de o gado estar solto ou confinado, maior é a necessidade de ração, de pastos cultivados e de assistência veterinária. Com tudo isso, a um aumento da produtividade e do rendimento, que são características da pecuária intensiva. Quando o gado se alimenta apenas em pastos naturais, a pecuária é considerada extensiva, e geralmente apresenta baixa produtividade.
Agricultura itinerante de subsistência e a roça.
São sistemas agrícolas largamente aplicados em regiões onde a agricultura é descapitalizada. A produção é obtida em pequenas e médias propriedades ou parcelas de grandes latifúndios, com utilização de mão de obra familiar e técnicas tradicionais e rudimentares. Por falta de assistência técnica e de recursos, não há preocupação com a conservação do solo, as sementes utilizadas são de qualidade inferior, não se investe em fertilizantes e, portanto, a rentabilidade, a produção e a produtividade são baixas. Após alguns anos de cultivo, há uma diminuição da fertilidade natural do solo, geralmente exposto à erosão. Ao perceber que o rendimento da terra esta diminuindo, a família desmata uma área próxima e pratica a queimada para acelerar o plantio, dando inicio a degradação acelerada de uma nova área, que também será brevemente abandonada. Daí o nome de agricultura itinerante.
Em regiões miseráveis do planeta, a agricultura de subsistência - itinerante e roça - está voltada as necessidades imediatas de consumo alimentar dos próprios agricultores. A produção destina-se a subsistência da família do agricultor, que se alimenta praticamente daquilo que planta. Tal realidade ainda existe em boa parte dos países africanos, em regiões do sul e sudeste asiático e na América Latina, mas o que prevalece hoje é uma agricultura de subsistência voltada ao comércio urbano.
O agricultor e sua família cultivam algum produto que será vendido na cidade mais próxima, mas o dinheiro que recebem é suficiente apenas para garantir a subsistência deles. Não há excedente de capital que lhes permita buscar uma melhoria nas técnicas de cultivo e aumento de produtividade.
Esse tipo de agricultura é comum em áreas distantes dos grandes centros urbanos onde a terra é mais barata, em função das grandes dificuldades de comercialização da produção. Nesse sistema, predominam as pequenas propriedades, cultivadas
Agricultura de jardinagem
Essa expressão se originou no sul e sudeste da Ásia, onde há uma enorme produção de arroz em planícies inundáveis, com utilização intensiva de mão de obra.
Tal como a agricultura de subsistência, esse sistema é praticado em pequenas e médias propriedades cultivadas pelo dono da terra e sua família ou em parcelas de grandes propriedades. A diferença é que nelas se obtêm alta produtividade, através do selecionamento de sementes, da utilização de fertilizantes, da aplicação de avanços biotecnológicos e de técnicas de preservação do solo que permitem a fixação da família na propriedade por tempo indeterminado. Não há a necessidade de ela se deslocar para outra área. Em países como as Filipinas, Tailândia, Indonésia, etc., devido a elevada densidade demográfica, as famílias contam com áreas muitas vezes inferiores a
As empresas agrícolas
São as responsáveis pelo desenvolvimento do sistema agrícola dos países desenvolvidos, com destaque para os EUA e a União Européia. Nesse sistema, a produção é obtida em médias e grandes propriedades altamente capitalizadas, onde se atingiu o máximo de desenvolvimento tecnológico. A produtividade é muito alta em decorrência do selecionamento de sementes, uso intensivo de fertilizantes, elevado grau de mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita, utilização de silos de armazenagem, sistemático acompanhamento de todas as etapas da produção e comercialização por técnicos, engenheiros e administradores. Funciona como uma empresa e sua produção é voltada ao abastecimento tanto do mercado interno quanto do externo. Nas regiões onde se implantou esse sistema agrícola, verifica-se uma tendência a concentração de terras, na medida em que os produtores que não conseguem acompanhar a elevação dos níveis de produtividade perdem condições de concorrer no mercado e acabam por vender suas propriedades. É o sistema agrícola predominante nos EUA, Canadá, Austrália, União Européia (com exceção da região mediterrânea) e porções da Argentina e do Brasil (regiões onde se cultivam soja e laranja, por exemplo).
Nos EUA, as grandes propriedades se organizaram em cinturões, em função das características do clima e do solo. O alto nível de capitalização exigiu uma especialização produtiva em grandes propriedades.
A Plantation
É a grande propriedade monocultora, com produção de gêneros tropicais, voltada para exportação. Forma de exploração típica dos países subdesenvolvidos, a Plantation foi um sistema agrícola amplamente utilizado durante a colonização européia na América. Nesse período de expansão do capitalismo mercantilista, utilizava-se em larga escala, a mão de obra escrava. Expandiu-se posteriormente para África e Sul e Sudeste asiático.
Na atualidade, esse sistema persiste em várias regiões do mundo subdesenvolvido, utilizando, além de mão de obra assalariada, trabalho semi-escravo ou escravo, que não envolve pagamento de salário. Trabalha-se em troca de moradia e alimentação. No Brasil, encontramos Plantation em vastas porções do território, com destaque para as áreas onde se cultivam café e cana de açúcar, dois dos nossos principais produtos agrícolas de exportação.
Ao lado das Plantations sempre se instalam pequenas e médias propriedades policultoras, cuja produção alimentar abastece os centros urbanos próximos.
Cinturão verde e bacia leiteira
Ao redor dos grandes centros urbanos, onde a terra é valorizada, pratica-se agricultura e pecuária intensivas para atender às necessidades de consumo da população local. Nessas áreas, produzem-se hortifrutigranjeiros e cria-se gado para a produção de leite e laticínios em pequenas e médias propriedades, com predomínio da utilização de mão de obra familiar. Após a comercialização da produção, o excedente obtido é aplicado na modernização das técnicas.
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