terça-feira, 4 de novembro de 2014

O Estereótipo africano

Chimamanda Ngozi Adichie: “A África não é só miséria”
A escritora nigeriana ironiza o estereótipo africano e diz que ele é fruto da ignorância sobre o continente
JOSÉ FUCS
Nos círculos literários internacionais, a jovem escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, de 32 anos, ganhou status de celebridade. No mês passado, ela foi incluída numa disputadíssima lista dos 20 melhores escritores com menos de 40 anos elaborada pela revista The New Yorker. Seu segundo romance – Meio sol amarelo, de 2006, o único lançado no Brasil – já foi traduzido para 27 línguas e vendeu mais de 500 mil exemplares. Foi graças a uma palestra que deu em 2009, na conferência anual da TED, uma ONG americana dedicada a difundir as ideias de pensadores e realizadores de todo o mundo, que Chimamanda virou hit do YouTube, o site de compartilhamento de vídeos da internet. O vídeo da palestra “O perigo de uma história de um lado só”, em que ela ironiza o estereótipo miserável da Áfricanos países desenvolvidos, já foi visto por mais de 300 mil pessoas. Nesta entrevista concedida a ÉPOCA por e-mail, Chimamanda diz que a África não é só pobreza e que a adoção de crianças pobres africanas por artistas como Madonna e Angelina Jolie não ajuda a salvar o continente.
ENTREVISTA - CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

QUEM É
Escritora nigeriana de 32 anos, mora nos EUA e na Nigéria. Esteve na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2008
ONDE ESTUDOU
Formou-se em comunicações e ciência política na Universidade Eastern Connecticut, em 2001. Fez pós-gradução em literatura criativa na Universidade Johns Hopkins e em estudos africanos em Yale 
O QUE PUBLICOU
Meio sol amarelo (Cia. das Letras, 504 páginas, R$ 59), lançado no Brasil em 2008. Escreveu também Purple hibiscus e The thing around your neck, ainda não lançados aqui


ÉPOCA – Em suas palestras, a senhora ironiza o estereótipo da África nos países desenvolvidos. Por quê? 
Chimamanda Ngozi Adichie – É uma visão baseada na catástrofe. A África é vista como um lugar cheio de coisas negativas. Exceto no caso das biografias de Mandela, que realmente não contam, porque são menos sobre a África e mais sobre o perdão mágico que ele concedeu às atrocidades dos brancos, não me lembro de ter visto uma única vez na mídia uma história sobre a África que não era sobre pobreza, aids, morte ou guerra. Há pobreza na África, mas existem pessoas que pensam que a pobreza é tudo o que a África tem.


ÉPOCA – Uma de suas maiores críticas é contra a expectativa de muitos leitores de encontrar histórias “autenticamente africanas” em seus romances. O que há de errado nisso? 
Chimamanda – Quando falamos de autenticidade, estamos em geral levando em conta uma pureza que não existe. A história de uma criança pobre que está pegando em armas ou de um ditador corrupto é tão válida quanto a história de um camponês de uma pequena vila rural ou de uma família da classe média que trabalha duro para mandar suas crianças para uma boa escola ou de uma trabalhadora urbana que compra um carro ou a de um casal que está discutindo uma relação afetiva complicada. Quem pode dizer que uma dessas histórias é mais “autenticamente africana” que a outra? Com base em que podemos julgar a autenticidade dessas histórias? Quem fará o julgamento? E, mais que tudo, por quê?

"As pessoas devem ter permissão para adotar crianças de qualquer
lugar. Mas é ridículo pensar que vão salvar a África assim"

ÉPOCA – Em sua visão, não existe, então, falar de uma cultura tipicamente africana? 
Chimamanda – A cultura humana é resultado de uma longa história de trocas. O café surgiu na Etiópia. Isso significa que uma história em que os americanos bebem café não é autêntica porque o café não é originalmente americano? As pessoas que falam em histórias “autenticamente africanas” – e acho estranho que eu nunca tenha escutado ninguém falar de histórias autenticamente americanas ou inglesas – parecem pensar que a África é um lugar que deveria permanecer como um museu para o entretenimento dos outros. Em geral, elas sabem muito pouco sobre a África e, por isso, insistem em fazer uma representação única de suas estreitas visões. É por isso que uma história sobre uma família de classe média ou de ricos africanos é vista como não autêntica. Não existe essa coisa de autenticidade. Isso sempre tem a ver com a mentalidade da pessoa que está dando o rótulo.

ÉPOCA – Em sua trajetória literária, a senhora sofreu algum tipo de discriminação por não falar do que se considera como a “África autêntica” ou de coisas que as pessoas costumam identificar como africanas? 
Chimamanda – Sempre haverá quem pense que a verdadeira África é uma coisa única e estreita. Quando eu estava na faculdade nos Estados Unidos, um professor uma vez me disse que meu romance não era autenticamente africano. Eu até poderia aceitar que o romance tinha vários problemas, mas não tinha imaginado que eu havia fracassado em expressar algo chamado “autenticidade africana”. Na verdade, eu nem sabia o que era “autenticidade africana”. O professor me disse que os personagens eram muito parecidos com ele, um homem bem-educado da classe média. Meus personagens dirigiam carros, não estavam morrendo de fome. Não eram, portanto, “autenticamente africanos”. Felizmente, tenho encontrado muita gente que não pensa assim.

ÉPOCA – Muitas celebridades, como Madonna e Angelina Jolie, adotaram crianças africanas, como se assim estivessem ajudando a reduzir a pobreza na África. O que a senhora pensa sobre isso? 
Chimamanda – As pessoas podem e devem ter permissão para adotar crianças de onde elas quiserem, desde que sejam bons pais. Mas é ridículo pensar que você está salvando um continente ao adotar uma criança. Para ajudar o continente africano, seria melhor, por exemplo, se engajar politicamente na batalha para que os países desenvolvidos acabem com os subsídios a seus fazendeiros e dar mais importância ao comércio com a África.

ÉPOCA – Em sua opinião, o que faz uma boa ficção? 
Chimamanda – Emoção. Atenção à linguagem. Complexidade. Paixão.

ÉPOCA – Quais são seus escritores favoritos? 
Chimamanda – Chinua Achebe (Nigéria), Jamaica Kincaid (EUA), Ian McEwan (Reino Unido), Phillip Roth (EUA), Ama Aita Aidoo (Gana), Toni Morrison (EUA) e Alejo Carpentier (Cuba).

ÉPOCA – Que livros está lendo agora? 
Chimamanda – Passing (Partida), de Nella Larsen (EUA), e The bottom billion (O bilhão da base), de Paul Collier (Inglaterra).

ÉPOCA – Que autores brasileiros a senhora conhece? Quais são seus preferidos? 
Chimamanda – Jorge Amado é meu favorito. Também gosto de Dom Casmurro, de Machado de Assis, um romance de um jovem que se apaixona por uma menina muito interessante da classe baixa.


ÉPOCA – Qual foi sua impressão do Brasil? A senhora tem planos para voltar ao país? 
Chimamanda – Tive uma ótima passagem pelo Brasil. A Feira Literária de Paraty é uma das melhores do mundo. Também estive no Rio de Janeiro. Meu editor brasileiro e sua família também foram ótimos. Gostaria de voltar e conhecer a Bahia e, talvez, escrever sobre como as contribuições que as culturas primitivas dos escravos africanos ao Brasil têm sido reinterpretadas pela atual geração.

celulares na África

A revolução do SMS
O mercado africano de celulares é o que cresce mais rápido no mundo. Com aparelhos simples e comunicação baseada em mensagens de texto, a mobilidade mudou a vida de milhões de pessoas. O que a experiência da África pode nos ensinar?
Amanda RossiInfo Exame - 05/
2011
Um dia na vida de um agricultor africano não é feito apenas de trabalhar a terra e fazer a colheita. Usando o serviço de SMS de seu celular simples, ele acompanha os preços oferecidos pelos mercados da região para os produtos que cultiva. É pago com dinheiro móvel, que trocará por moeda corrente ou usará para adquirir outras mercadorias. Ele recebe, também por SMS, o dinheiro enviado pelo filho que mora na Inglaterra. E se um elefante está seguindo em direção a seu povoado, um torpedo o alerta de que terá de proteger sua plantação do estômago voraz do animal. Nada disso é previsão para o futuro ou projeção de como as tecnologias móveis contribuirão para o desenvolvimento do continente mais pobre do mundo.

Na África, este é um retrato do que já acontece em diversas regiões, em função da rápida massificação dos celulares. Há oito anos, apenas 5% da população africana possuía um celular. Esse número subiu para 41,4% em 2010. Crescimento tão expressivo fez da África o mercado que cresce mais rápido no mundo, atingindo o dobro do aumento verificado no restante do globo. Hoje, mais pessoas têm acesso à telefonia móvel do que a energia elétrica em países como Moçambique e Quênia. Existem aparelhos que podem ser carregados pelo sol e lojas que vendem tempo na tomada para completar a bateria. Em 2014, estima-se que dois em cada três africanos terão um celular.

A maior inovação vinda da África está na utilização de aparelhos simples para resolver problemas do dia a dia, principalmente usando o popular SMS (short message system). "O celular está mudando a vida das pessoas na África de forma muito mais abrangente do que nos mercados maduros", diz a analista Stephanie Baghdassarian, da consultoria Gartner. Há uma revolução móvel acontecendo no continente africano que pode ser vista nas diferentes formas de transformar um simples torpedo em ferramenta para transferir dinheiro (inclusive entre países, como Inglaterra e Quênia), fazer pagamentos, promover campanhas de saúde pública e mapear conflitos, além de acompanhar o vai e vem dos mercados, tirar empréstimos bancários e até guardar dinheiro em uma poupança. Tudo por SMS.
 “A inovação surge da escassez. Esta é talvez a lição mais importante que aprendemos com a expansão dos serviços móveis na África", afirma Ken Banks, desenvolvedor da FrontlineSMS, plataforma de envio massivo de mensagens pelo sinal de celular, utilizada em diversos países do continente para programas de saúde e educação. "Eu não posso usar meu telefone para pagar um táxi em Londres porque tenho muitas outras opções para isso. Mas se estou no Quênia, não haverá um caixa eletrônico em cada esquina e a maioria das pessoas não tem conta bancária. Mas tem um celular", diz Banks.

USO DO CELULAR CRESCE RÁPIDO
: Acesso a telefone móvel, fixo e internet na África (por 100 habitantes).

DINHEIRO MÓVEL NO QUÊNIA

Os modelos simples e baratos, que fazem apenas ligações e enviam torpedos, representam a quase totalidade do mercado africano de celulares, devido ao baixo poder aquisitivo da população. Na África Subsaariana, 490 milhões de pessoas vivem em condição de pobreza, segundo a ONU. Incrementados por serviços inovadores, esses celulares baratos se transformam em poderosas ferramentas. "Para desenvolver um sistema massivo de informação na África é preciso que ele envolva SMS", afirma Banks. "Ao optar por uma plataforma online para celulares ou por aplicativos que precisam ser baixados, exclui-se de cara um enorme contingente de pessoas. No Zimbábue, por exemplo, a penetração da internet é de 5%."
O Quênia, país do leste africano, está no topo da inovação móvel no continente. Lá surgiu o programa de dinheiro móvel mais bem-sucedido do mundo, o M-Pesa. Em quatro anos de operação teve a adesão de 35% da população do país (ou 14 milhões de pessoas) e movimenta 17 milhões de dólares por dia. "O M-Pesa criou oportunidade de negócios", disse a INFO Michael Joseph, o criador do serviço. "No início, as pessoas recebiam o dinheiro pelo celular e trocavam por moeda. Depois, passaram a guardar no próprio aparelho e trocar por uma cerveja", diz Joseph.

Além do M-Pesa, há 52 projetos de dinheiro móvel na África, mais da metade do total dos 103 existentes no mundo, segundo a consultoria Amarante. Na América Latina, são apenas 13, e no Brasil ainda estão em teste. O mercado africano é promissor devido ao baixo nível de utilização bancária. "Menos de 5% da população da África Subsaariana tem acesso a bancos", afirma Aiaze Mitha, diretor da Amarante.
Programas que utilizam o celular em áreas como agricultura, saúde e educação se multiplicam, financiados por empresas privadas, doadores internacionais e governos. Em Uganda, o projeto Amigos dos Agricultores, feito em parceria com o Google, envia por SMS técnicas de cultivo agrícola, previsão do tempo e cotações. O Esoko, software de acompanhamento por SMS das cotações do mercado, foi lançado em Gana e se espalhou para oito países da região.

Antes da utilização dos celulares, agentes da área de saúde comunitária do Malavi, pequeno país do sudeste africano, anotavam o estado de saúde dos pacientes e se deslocavam até os hospitais mais próximos, muitas vezes a centenas de quilômetros, para registrar as informações. Hoje, usam o FrontlineSMS Medic, aplicativo que transmite os dados usando mensagens de texto. No Mali, ao norte, uma ferramenta semelhante registra excelentes resultados no combate à desnutrição infantil. Quênia e Uganda usam o Ushahidi, software de mapeamento por SMS, para monitorar casos de carência de medicamentos, no programa Stop Stocks-Out.

Os torpedos se transformaram também em um meio de organização política na África. O principal exemplo é a revolta popular que ocorreu em Moçambique, em setembro de 2010, contra a inflação. Convocado por mensagens SMS anônimas, o movimento chamou a atenção do mundo devido ao poder de mobilização. "Moçambicano, prepara-te para a greve geral contra a subida do pão, água, luz e diversos. Envie para outros moçambicanos. Despertar." A mensagem levou milhares às ruas e forçou o governo a reduzir o preço dos produtos básicos.

O Gartner estima que até 2014 o número de conexões de celular na África deverá crescer 60%, passando dos atuais 530 milhões (duas vezes e meia o total brasileiro) para 724 milhões. A receita das empresas de telecomunicações também deve continuar em alta. Hoje, o total movimentado representa boa parte do PIB dos países africanos. No Senegal é de 9%; na África do Sul, 7,5%; no Quênia, 6%. A média mundial gira em torno de 3%.

O crescimento vai se ancorar na expansão da cobertura da rede e da abertura de novos mercados. "Há muita competição", diz Stephanie Baghdassarian, do Gartner. Alguns países, como a Nigéria, têm até dez operadoras competindo. Ao contrário do Brasil e de outros mercados mais maduros, o setor não é tão regulamentado e só agora surgem as primeiras iniciativas de registro de aparelhos.

As tarifas são mais baratas do que as brasileiras. Enquanto o custo de um pacote básico de celular (25 ligações mais 30 SMS) saía por cerca de 34 dólares no Brasil, em 2009, no Quênia era de 7,50 e na Nigéria de 10 dólares, segundo a ITU (União Internacional de Telecomunicações). Mas o poder de compra é bem menor e o pacote básico corresponde a 23% da renda per capita média na África.

Para servir a um mercado de tão baixa renda, as operadoras precisam oferecer serviços flexíveis. As recargas mínimas de pré-pagos, por exemplo, que atendem a 95% dos usuários, têm valores de 20 meticais em Moçambique (cerca de 1 real) e de 50 nairas na Nigéria (0,50 real), por exemplo. Em muitos países também é possível enviar crédito para o celular de outras pessoas.

DINHEIRO E SAÚDE MÓVEIS 
Conheça alguns usos inovadores dos celulares na África

Transferência de dinheiro

O "m" vem de mobile e "pesa" significa dinheiro em suaíli, língua falada no Quênia. O M-Pesa é o primeiro sistema de transferência de dinheiro por celular do mundo a operar em larga escala. Conta com 14 milhões de usuários (35% da população) e transfere 17 milhões de dólares por dia. Funciona assim: após se registrar, o usuário troca dinheiro por e-money, que pode ser enviado para qualquer celular do país e trocado novamente por dinheiro. Lojas, escolas e serviços aceitam e-money. É possível receber dinheiro da Inglaterra, com limite de mil euros por mês.

O mercado no SMS

Criado por uma empresa de software de Gana, o Esoko oferece cadastro de cotações de produtos, como os agrícolas, em várias regiões. O meio é o SMS. Ofertas para compra ou venda são cadastradas e distribuídas para os usuários. Acessível mediante pagamento de uma taxa, o sistema Esoko está em oito países.

Mensagens em massa

Em 2003, Ken Banks estava na África do Sul para criar um método de conectar uma comunidade a um parque nacional e viu no SMS grande potencial para comunicação. Naquele ano, só 5% da população africana tinha celular. Banks criou o FrontlineSMS, plataforma que usa o sinal de celular para enviar torpedos em massa, além de receber e armazenar. Hoje, o sistema é usado para monitorar eleições no Quênia, para lembrar as pessoas de que devem tomar seus medicamentos, para armazenar dados de pacientes no Malavi e para reportar violência contra a mulher no Benin ou contra crianças no Egito.

Mapeamento de problemas

O Ushahidi é um software livre criado no Quênia para mapear casos de violência após as eleições de 2008. Agora é usado em várias partes do mundo. Na Europa, reporta vazamentos de petróleo. No Haiti, localizou vítimas do terremoto. Ushahidi significa testemunho em suaíli. O usuário envia SMS com a localização do incidente. Os dados são georreferenciados e exibidos em mapa.

Programas de saúde pública

A desnutrição infantil no Mali foi reduzida com o auxílio do Pésinet. Os médicos podem monitorar dados de saúde de crianças que vivem em áreas remotas, coletados semanalmente por agentes de saúde e enviados por celular. Quando o estado de saúde é grave, os médicos enviam SMS para os agentes com os nomes das crianças que precisam ser avaliadas pessoalmente.

EXPANDIR A INTERNET É O DESAFIO DE HOJENo Quênia, a Safaricom criou um novo jeito de fazer ligação a cobrar. O toque do aparelho demora mais que o normal, indicando que a pessoa deve ligar de volta. Muitas operadoras também oferecem um tipo de SMS chamado "please call me" (por favor, me ligue), gratuito e acompanhado de anúncio publicitário. Além disso, em muitos países não existe interurbano. As chamadas dentro de qualquer cidade de Moçambique, por exemplo, têm custo local. "Todos esses serviços poderiam ser interessantes em mercados maduros, mas são desenvolvidos em países onde o dinheiro é curto e onde as operadoras precisam tornar seus produtos flexíveis para atrair os consumidores", diz Stephanie, do Gartner.

A África deu um salto direto para os celulares, sem passar pela telefonia fixa. Hoje há apenas um telefone fixo para cada mil habitantes. "Com a falta crônica de infra-estrutura, o único equipamento de comunicação que é acessível e universal é o celular", diz Mitha, da Amarante. Em 2008, o sinal de celular cobria 60% da população.

Um grande problema na África é a expansão da internet, já que menos de 5% da população têm acesso à rede. Devido à falta de infraestrutura para telefonia fixa, necessária para dial-up e ADSL, o 3G e os smartphones podem se tornar o principal meio de acessar a rede. Especialistas em telefonia móvel estão animados e acreditam que a maioria da população africana terá nos celulares seu primeiro contato com a web. "Os smarphones podem ser a única maneira para o usuário africano navegar", diz Stephanie, do Gartner.

Na África do Sul, na Nigéria e no Quênia já começa a surgir mercado para smartphones e internet 3G, mas na maioria dos países do continente o preço dos aparelhos ainda é proibitivo. Para Ken Banks, da FrontlineSMS, a África dará um grande salto quando um smartphone baixar para 30 dólares. "Os modelos mais baratos que se conectam à internet custam 100 dólares. É muito para quem vive com 2 dólares por dia." Quando os preços baixarem, o agricultor que depende do SMS para se livrar do elefante terá à disposição um mundo muito mais rico e interativo.

• 41% é a penetração dos celulares para cada 100 habitantes na África
• 95% do mercado é de pré-pagos
• 3 países (Nigéria, África do Sul e Quênia) têm a maior concentração de celulares

Compra de terras na África



Estrangeiros já compraram uma Alemanha na África

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
 22/09/2011 
Desde 2001, algo próximo a 221 milhões de hectares de terra foram vendidos, cedidos ou arrendados, a maior parte por investidores internacionais, em países em desenvolvimento. A maioria destas transações aconteceu na África. O comércio de terras no continente, nos últimos anos, já dá uma área maior que a da Alemanha. Os motivos do frenesi seriam três, segundo um relatório que está sendo divulgado pela ONG internacional Oxfam: segurança alimentar, biocombustíveis e especulação.
O fenômeno tende a ficar ainda mais forte em um mundo com população crescente e recursos limitados. A expectativa é que a economia global triplique até 2050, exigindo mais dos recursos naturais e da agricultura. A demanda maior por comida, somada às condições adversas provocadas pelas mudanças climáticas, escassez de água e competição com culturas que produzem biocombustíveis, criam um cenário pouco otimista. "É um problema muito novo, e os países não estão se dando conta da sua dimensão", diz Simon Ticehurst, chefe do escritório da Oxfam no Brasil.
"Acredita-se que as respostas virão do mercado e da tecnologia, que podem até ajudar, mas não vão resolver tudo", continua. "Há que se encontrar um equilíbrio entre estas forças e é fundamental que os países criem suas regras."
O relatório da Oxfam cita casos de apropriação de terras em Uganda, no Sudão do Sul, na Indonésia, em Honduras e na Guatemala. A questão fica ainda mais complicada porque, em muitos países, quem vive nas terras não têm título de propriedade. Em Uganda, segundo as pesquisas da Oxfam, mais de 22,5 mil pessoas teriam perdido suas casas e terras para uma empresa britânica de madeira, a New Forests Company, que nega ter expulsado as pessoas.
Segundo o estudo - intitulado "Land and Power" -, os contratos de compra e venda não costumam ser transparentes, o que dificulta a obtenção de dados exatos sobre a movimentação de terras. Informações checadas por várias fontes dão conta de mais de 1.100 negociações de terra (somando cerca de 67 milhões de hectares), nos últimos anos. "As mulheres e as populações mais carentes são muito vulneráveis a este fenômeno", diz Ticehurst. Violações de direitos humanos seriam frequentes. As comunidades locais não estariam sendo consultadas sobre os negócios e nem tratadas de forma justa.
'A lógica da produção de alimentos no mundo tem que mudar', defende Ticehurst. O caminho, acredita, passa pela agricultura familiar, sustentável e agroecológica. 'O modelo atual, baseado em grandes propriedades, monocultivos e uso intensivo de agrotóxicos está quebrado', diz ele."

Compromisso ético com a África





Muito se discute sobre quais as razões para que exista miséria, fome e toda uma série de desgraças e doenças na África.

As sugestões para a solução  desses problemas sugere sempre a interferência de organismos internacionais, o apoio de ONG's, um olhar de fora, ainda o olhar do colonizador, da civilização ocidental.

Talvez tenhamos chegado num grande impasse. É possível que o modelo capitalista tenha chegado a uma encruzilhada e exista uma outra possibilidade de mundo, diferente do proposto pelo capitalismo.

Um resgate da sabedoria ancestral, o retorno a uma visão de mundo que propugne  o equilibrio, associado a modernas técnicas não agressivas e apoiadas a um compromisso ético com a vida pode ser usada na África, para a emancipação dos povos e bem estar de todos.

Os problemas que ocorrem na Africa são fruto de um processo histórico, que ocasionou o rompimento do modo de vida africano.

Esses problemas serão solucionados com o apoio de todos, promovendo uma mudança no que deu errado, alicerçado em base tradicionais africanas. "Há certas tradições que não merecem ser celebradas" lembrou o principe Hamlet; dessa forma nem toda tradição é positiva. O que precisa ser valorizado é a vida, o equilibrio e o bem estar de todos, mulheres velhos e crianças, do ser humano e de toda forma de vida.

Para quem pensa que é utopia, ou conversa piegas, sugiro a leitura do texto de Valéria de Marcos: Construindo alternativas a produção agroecológica através da Mandala.

A professora é doutora pela USP  em Geografia, e atualmente é professora da FFLCH, com enfâse em Geografia Agrária.

O trabalho da professora Valéria de Marcos é uma pesquisa sobre alternativas para a produção agrícola na ótica do desenvolvimento local autosustentável.

As práticas defendidas no texto são métodos alternativos de agricultura em respeito ao ambiente, utilizando a permacultura e a agroecologia.

Usando como exemplo o processo de organização e funcionamento da mandala em assentamentos noo Brasil, a autora destaca as pectos realcionados ao cultivo, rotina de trabalho, viabilidade econômica e forma de escoamento da produção.

Retomo dessa forma a discussão iniciada nos comentários do post "O Brasil na África". Lá eu afirmava esperar que a África não seja continuamente um laboratório de atrocidades, mas que seja um lugar de novas possibilidades de valorização da vida.

Isso só é possível com as pessoas certas nos lugares certos. Espero que alguns de nós tenham a possibilidade de encontrarem-se em lugares chave e possam exercer o compromisso ético com o planeta.

Olhar os fenômenos de dentro, compromissado com a vida e amparado pela conhecimento, é uma saída honrosa para enfrentar os problemas na África.


O Brasil na África

O Brasil na África
Paula Adamo Idoeta  BBC Brasil  09/05/2012
            Em um artigo da BBC  Brasil, a jornalista Paula Adamo Idoeta de 09/05/2012 menciona um estudo feito pela consultoria Ernst & Young: “ o Brasil está no fim da lista dos 30 maiores investidores da África, respondendo por apenas 0,6% dos novos projetos de investimentos diretos estrangeiros (FDI, na sigla em inglês) no continente entre 2003 e 2011. Em comparação, os EUA abocanharam 12,5% dos novos projetos; a China (Hong Kong incluída), 3,1%; e a Índia, 5,2%.”
            Em um seminário do BNDES o banco BTG Pactual afirmou a intenção de captar US$ 1 bilhão para investimentos do setor privado brasileiro na África, em áreas como energia, infra-estrutura e agricultura, relata O Estado de S. Paulo. A Eletrobrás também estuda hidrelétricas em Angola e Moçambique, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, pediu mais aportes do G20 (grupo das maiores economias do mundo) ao Banco Africano de Desenvolvimento.
            Para Michael Lalor, diretor do África Business Center da Ernst & Young: "Foram 33 projetos de investimento estrangeiro direto do Brasil na África desde 2003 - menos de 1% do total." E, com o crescimento do mercado consumidor africano, "surpreende que empresas brasileiras de consumo - serviços financeiros, varejo, telecomunicações - não estejam mais ativos no continente", agregou. Para o executivo, há também expectativas de que o Brasil "use seu expertise em biocombustíveis para investir mais fortemente nisso".
            
                                      Presença brasileira é mais forte em Angola (foto) e Moçambique
            Moçambique  abriga empreendimentos da Vale e da Odebrecht, uma das maiores empregadoras locais; Angola  é o maior receptor dos investimentos brasileiros no continente (R$ 7 bilhões, segundo estimativas de 2011 da Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola). Empresas como Petrobras e construtoras como Odebrecht e Andrade Gutierrez têm operações sólidas ali.
            Mas, para a diretora regional da África da Economist Intelligence Unit, Pratibha Thaker, o Brasil está seguindo um curso natural. "Não acho que o país tenha desperdiçado oportunidades. Começou com os países de língua portuguesa e agora está avançando para outros - por exemplo, a África do Sul, onde mira o varejo e a agricultura", afirmou à BBC Brasil. "É a primeira vez que o continente africano está sendo encarado com seriedade pelo mundo (como um pólo de oportunidades). E o Brasil, ao contrário da China, é bem visto por sua tendência a empregar mão de obra local, transferir tecnologia."
Ela adverte, porém, que espaços não ocupados por outros países na África serão tomados por investimentos chineses e indianos.

Avanços e recuos da África

                                      Demanda por infra-estrutura ainda é grande no continente africano
O relatório da Ernst & Young aponta que, entre 2010 e 2011, cresceu 27% o número de projetos financiados por investimento direto estrangeiro na África. Os principais receptores são África do Sul, Egito, Marrocos, Argélia, Tunísia, Nigéria e Angola.
Mesmo assim, o continente abocanha apenas 5,5% do total dos investimentos estrangeiros - algo que, na opinião de Ajen Sita, "não reflete o potencial econômico da África".
Isso é atribuído à desconfiança de muitos investidores com relação à instabilidade política, à corrupção e às dificuldades em fazer negócios atribuídos aos países africanos.
No levantamento feito pela E&Y, empresários sem presença na África vêem a região como "a menos atrativa para negócios do mundo". No entanto, diz a consultoria, quem já faz negócios na África tende a melhorar sua percepção sobre o continente e a considerá-lo quase tão atrativo quanto a Ásia.
Também cresce o volume de negócios entre países africanos, enquanto velhos desafios permanecem: a infraestrutura continental é deficiente e requer investimentos de mais de US$ 90 bilhões, apontou Sita.
Outro antigo desafio é a estabilidade continental - um problema antigo que atualmente se manifesta com os levantes da Primavera Árabe e com golpes de Estado em países como Mali e Guiné-Bissau.
Em resposta a isso, o relatório da E&Y afirma que, apesar de focos de conflitos, "a democratização africana é algo real, com os Estados unipartidários se tornando cada vez mais a exceção, em vez de a regra".



Bandeiras africanas

Chama a atenção o fato de muitas bandeiras africanas apresentarem cores comuns entre elas: combinações entre o verde, o amarelo, o vermelho e o preto são comuns.
As origens dessas combinações estão no Pan-Africanismo, movimento que propunha a união dos povos africanos, como forma de valorizar a África no contexto internacional.
O movimento teve força ao longo das lutas pela independência na segunda metade do século XX, buscando a unidade política de toda a África e o reagrupamento das etnias divididas pelas imposições dos colonizadores.
Valorizavam a realização de cultos aos ancestrais e defendiam a ampliação do uso das línguas e dialetos africanos, proibidos ou limitados pelos europeus.
A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos africanos na diáspora americana descendentes de africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do  século XX; no Brasil foi divulgada por Abdias do Nascimento.
Duas diferentes combinações de três cores são referenciadas como as cores pan-africanas: o verde, o amarelo e o vermelho, primeiramente usadas na bandeira da Etiópia.
A Etiópia  é um país emblemático no continente africano: foi o único país que não foi colonizado pelos europeus e  é o berço do rastafarianismo, um movimento importante para a valorização das ideologias africanas.

Idéia de nação na África

24-05-2012 21:20 - fonte:  http://www.portalangop.co.aoHuíla - Lubango
Especialista defende que africanos devem elevar ideia de nação 



Lubango – Os africanos devem colocar acima de qualquer coisa a unidade territorial e a idéia de nação, respeito pelos símbolos nacionais e o progresso de cada país, para evitar que as interferências externas influenciem negativamente na política e no desenvolvimento do continente, defendeu hoje, no Lubango, Huíla, o professor universitário, Hélder Pedro Alicerces Bahú.
  
Em entrevista à Angop, a propósito dos 49 anos da institucionalização da União Africana (antiga OUA), que na sexta-feira se assinala, o professor de História no ISCED do Lubango disse que boa parte dos problemas africanos são provocados por países acidentais, dai que a ideia de uma neo-colonização é mais como uma luva do tipo invisível e é bem patente neste campo.

"As interferências externas começaram no tempo colonial e persistem até hoje e eu penso que a solução está nas mãos do próprio africano, que têm a responsabilidade de ter mais ambições, pensar no país", disse.
  
Argumentou que estas intromissões, mesmo que continuem, que não sejam tão fortes como agora, pois encontrarão a negação por parte dos próprios africanos.

Hélder Bahú defendeu igualmente a mudança de postura de maior parte de partidos que faz oposição em África, que opta em insistir em ataques pessoais a quem governa, em vez fazer uma política que contribua para o engrandecimento do país, em particular e do continente de uma forma geral.

Acrescentou que muitos dos seus membros da União Africana desviam-se dos intentos consagrados em documentos "muito bem" escritos, relativos a alternância do poder, erradicação da pobreza, do analfabetismo e todas outras formas que contribuem para a melhoria das condições de vida das populações, o que também provoca uma certa instabilidade política em alguns países.

Segundo ele, a UA não conseguirá encontrar um denominador comum para poder mudar o quadro, se os seus integrantes não mudarem as suas políticas, o que quer dizer que ela está dependente dos seus membros.

O professor Hélder Bahú é mestre em história e doutorando pela mesmo disciplina pela Universidade Nova de Lisboa.

A Organização da Unidade Africana (OUA) foi criada a 25 de Maio de 1963 em Addis Abeba, capital da Etiópia, através da assinatura da sua Constituição por representantes de 32 governos de países africanos independentes.
  
A OUA foi substituída pela União Africana a 9 de Julho de 2002.



A organização tem como objetivos a unidade e a solidariedade africana, defende a eliminação do colonialismo, a soberania dos Estados africanos e a integração econômica, além da cooperação política e cultural no continente.