quinta-feira, 25 de maio de 2017

Divisão Internacional do Trabalho

texto no link da fonte:
http://marlivieira.blogspot.com.br/2016/11/divisao-internacional-do-trabalho-dit.html


Imagens da Revolução Industrial

 I Revolução Industrial
II Revolução Industrial

III Revolução Industrial


Fases da Revolução Industrial e suas características

fonte: http://regininha-atividadesescolares.blogspot.com.br/2016/12/quadro-sintese-as-tres-fases-da_72.html

Diferenças entre Capitalismo e socialismo

Diferenças entre o capitalismo e o socialismo

Wilson Teixeira Moutinho

Fases do capitalismo: capitalismo comercial, industrial, financeiro e informacional
POR FERNANDO SOARES DE JESUS • PUBLISHED 12 DE OUTUBRO DE 2015 • UPDATED 15 DE ABRIL DE 2017

Ao contrário do que imagina-se, o capitalismo, durante a história, não foi um sistema imutável e homogêneo. Durante os séculos, as relações econômicas e sociais regidas pelo capital alteraram-se significativamente. É com base nisso que costuma-se dividir o capitalismo em fases: capitalismo comercial, capitalismo industrial, capitalismo financeiro e capitalismo informacional. Acompanhe abaixo as principais características de cada uma destas fases.
CAPITALISMO COMERCIAL OU PRÉ-CAPITALISMO
É o capitalismo típico do período das Grandes Navegações, entre os séculos XVI e XVII. Neste tempo, os países europeus lançaram-se à descoberta de oceanos e de regiões até então desconhecidas, colonizando-as e exterminando sua população nativa. As terras recém-descobertas, principalmente no continente americano, eram muito ricas em recursos naturais, como a prata e o ouro, e em terras férteis para a produção de diversos gêneros tropicais, como é o caso da cana-de-açúcar, no Brasil.


As atividades produtivas na colônia tinham como objetivo abastecer o mercado da
Metrópole

Duas políticas destacam-se neste contexto: o metalismo e o mercantilismo. O metalismo dizia respeito ao acúmulo de capitais e de metais preciosos pela Coroa das metrópoles europeias, com o objetivo de manter uma balança comercial favorável, isto é, favorecer a entrada de lucros e inibir a saída dos mesmos.
Já o mercantilismo relaciona-se com as trocas comerciais realizadas entre as metrópoles europeias e suas respectivas colônias. Sob o pacto colonial, uma colônia só poderia comprar produtos manufaturados de sua metrópole e, ao mesmo tempo, todo o tipo de riqueza natural extraída na colônia era direito de sua metrópole. Nesta política econômica, o Estado era o articulador e o organizador do fluxo comercial. A riqueza de um país era medida pela quantidade de metais preciosos que detinha: era a acumulação primitiva de capital.

CAPITALISMO INDUSTRIAL
O acúmulo de capital no período do capitalismo comercial propiciou uma série de inovações tecnológicas que aceleraram a produção nas antigas manufaturas. Era o início da Primeira Revolução Industrial (1780-1860). É neste período que surgem as primeiras fábricas, movidas por máquinas a vapor (carvão), sendo esta época também marcada pelas inovações no setor de transporte, com a criação de navios e trens que funcionavam com o mesmo combustível.


Quadro de Herman Heijenbrock, retratando um fábrica de fundição de ferro

O surgimento do capitalismo industrial está atrelado ao nascer de um novo tipo de sociedade, regida pelo trabalho assalariado nas fábricas e pela propriedade privada. Segundo esta lógica, o trabalhador vendia sua força de trabalho em troca de um salário, enquanto o dono dos meios produtivos, o patrão, oferecia-lhe as ferramentas necessárias para o serviço em troca de um lucro.
Diferentemente do capitalismo comercial, onde o Estado era o planejador e organizador da economia, no capitalismo industrial o Estado tinha suas funções reduzidas a questões de segurança da propriedade privada e mantimento da ordem. Esta tese, formulada pelo filósofo e economista Adam Smith, ficou conhecida como liberalismo econômico e preconizava que a economia era capaz de autorregular-se e que a concorrência estimularia o investimento em novas tecnologias e o consequente barateamento de produtos.
CAPITALISMO FINANCEIRO OU MONOPOLISTA
A partir do final do século XIX, o descobrimento de novas fontes de energia, como a eletricidade e o petróleo, e a criação de novas tecnologias, como o telefone, possibilitou a expansão das indústrias para outros países europeus, para os EUA e para o Japão. Era o início de um novo tipo de integração econômica, onde a indústria e as relações por ela regida se internacionalizaram e tornaram-se muito mais complexas. Para administrar os lucros e os investimentos, o capital industrial aliou-se ao capital bancário. Os bancos passavam a ser os grandes articuladores econômicos do setor industrial e as bolsas de valores os termômetros do valor das empresas. Era o início do capitalismo financeiro.


No capitalismo financeiro, as Bolsas de Valores ganham destaque no cenário
global. Na imagem, a bolsa de valores do México.

É marcante deste processo o surgimento de Sociedades Anônimas. Agora, uma empresa não seria administrada apenas por uma pessoa, e sim por um grupo de pessoas, que dividiriam investimentos, lucros e participação nas decisões do conselho, conforme as ações que cada um dispunha. A união do capital bancário com o industrial também favorece a formação de grupos econômicos hegemônicos. Desde forma, podemos entender que, ao mesmo tempo que financeiro (por unir a participação dos bancos à industria), esta fase do capitalismo é monopolista, pois acarreta na fusão de grandes corporações, na concentração de capital e na consequente diminuição da concorrência.
O papel do Estado também sofre alterações nesta fase. Embora o liberalismo ainda predomine como sistema econômico, agora a figura estatal administra e fiscaliza a economia. Esta política ganha força após a crise do liberalismo, em 1929, com o teórico John Maynard Keynes, que, através da política do Estado do Bem-Estar Social, vai defender a obrigatoriedade do Estado em suprir as necessidades básicas da população, com serviços públicos de saúde e educação, por exemplo, e também a intervenção do Estado na economia, para fiscalizar e impedir uma nova crise.
Esta fase do capitalismo viria a sofrer mudanças após a Segunda Guerra Mundial, quando ocorre o processo de descolonização da África e da Ásia e a industrialização de alguns países subdesenvolvidos.
CAPITALISMO INFORMACIONAL
Existem alguns estudiosos que defendem que, atualmente, vivemos uma nova fase do capitalismo: o capitalismo informacional. Nesta fase, marcada pela ascensão de novas tecnologias e da sociedade da informação, o domínio do conhecimento, da técnica e do saber científico passam a quantificar a riqueza de um país. Este novo sistema foi impulsionado pela Revolução Técnico-Científica e o surgimento da rede mundial de computadores.

No capitalismo informacional, as relações econômicas entre países são mediadas através do neoliberalismo, teoria econômica posta em prática pela primeira vez no final da década de 1970, pelos governos de Ronald Reagan (EUA) e Margareth Tatcher (Inglaterra), preconizando a não-intervenção do Estado na economia e defendendo a privatização de empresas e a diminuição das tarifas alfandegárias, entre outras medidas.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O Estereótipo africano

Chimamanda Ngozi Adichie: “A África não é só miséria”
A escritora nigeriana ironiza o estereótipo africano e diz que ele é fruto da ignorância sobre o continente
JOSÉ FUCS
Nos círculos literários internacionais, a jovem escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, de 32 anos, ganhou status de celebridade. No mês passado, ela foi incluída numa disputadíssima lista dos 20 melhores escritores com menos de 40 anos elaborada pela revista The New Yorker. Seu segundo romance – Meio sol amarelo, de 2006, o único lançado no Brasil – já foi traduzido para 27 línguas e vendeu mais de 500 mil exemplares. Foi graças a uma palestra que deu em 2009, na conferência anual da TED, uma ONG americana dedicada a difundir as ideias de pensadores e realizadores de todo o mundo, que Chimamanda virou hit do YouTube, o site de compartilhamento de vídeos da internet. O vídeo da palestra “O perigo de uma história de um lado só”, em que ela ironiza o estereótipo miserável da Áfricanos países desenvolvidos, já foi visto por mais de 300 mil pessoas. Nesta entrevista concedida a ÉPOCA por e-mail, Chimamanda diz que a África não é só pobreza e que a adoção de crianças pobres africanas por artistas como Madonna e Angelina Jolie não ajuda a salvar o continente.
ENTREVISTA - CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

QUEM É
Escritora nigeriana de 32 anos, mora nos EUA e na Nigéria. Esteve na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2008
ONDE ESTUDOU
Formou-se em comunicações e ciência política na Universidade Eastern Connecticut, em 2001. Fez pós-gradução em literatura criativa na Universidade Johns Hopkins e em estudos africanos em Yale 
O QUE PUBLICOU
Meio sol amarelo (Cia. das Letras, 504 páginas, R$ 59), lançado no Brasil em 2008. Escreveu também Purple hibiscus e The thing around your neck, ainda não lançados aqui


ÉPOCA – Em suas palestras, a senhora ironiza o estereótipo da África nos países desenvolvidos. Por quê? 
Chimamanda Ngozi Adichie – É uma visão baseada na catástrofe. A África é vista como um lugar cheio de coisas negativas. Exceto no caso das biografias de Mandela, que realmente não contam, porque são menos sobre a África e mais sobre o perdão mágico que ele concedeu às atrocidades dos brancos, não me lembro de ter visto uma única vez na mídia uma história sobre a África que não era sobre pobreza, aids, morte ou guerra. Há pobreza na África, mas existem pessoas que pensam que a pobreza é tudo o que a África tem.


ÉPOCA – Uma de suas maiores críticas é contra a expectativa de muitos leitores de encontrar histórias “autenticamente africanas” em seus romances. O que há de errado nisso? 
Chimamanda – Quando falamos de autenticidade, estamos em geral levando em conta uma pureza que não existe. A história de uma criança pobre que está pegando em armas ou de um ditador corrupto é tão válida quanto a história de um camponês de uma pequena vila rural ou de uma família da classe média que trabalha duro para mandar suas crianças para uma boa escola ou de uma trabalhadora urbana que compra um carro ou a de um casal que está discutindo uma relação afetiva complicada. Quem pode dizer que uma dessas histórias é mais “autenticamente africana” que a outra? Com base em que podemos julgar a autenticidade dessas histórias? Quem fará o julgamento? E, mais que tudo, por quê?

"As pessoas devem ter permissão para adotar crianças de qualquer
lugar. Mas é ridículo pensar que vão salvar a África assim"

ÉPOCA – Em sua visão, não existe, então, falar de uma cultura tipicamente africana? 
Chimamanda – A cultura humana é resultado de uma longa história de trocas. O café surgiu na Etiópia. Isso significa que uma história em que os americanos bebem café não é autêntica porque o café não é originalmente americano? As pessoas que falam em histórias “autenticamente africanas” – e acho estranho que eu nunca tenha escutado ninguém falar de histórias autenticamente americanas ou inglesas – parecem pensar que a África é um lugar que deveria permanecer como um museu para o entretenimento dos outros. Em geral, elas sabem muito pouco sobre a África e, por isso, insistem em fazer uma representação única de suas estreitas visões. É por isso que uma história sobre uma família de classe média ou de ricos africanos é vista como não autêntica. Não existe essa coisa de autenticidade. Isso sempre tem a ver com a mentalidade da pessoa que está dando o rótulo.

ÉPOCA – Em sua trajetória literária, a senhora sofreu algum tipo de discriminação por não falar do que se considera como a “África autêntica” ou de coisas que as pessoas costumam identificar como africanas? 
Chimamanda – Sempre haverá quem pense que a verdadeira África é uma coisa única e estreita. Quando eu estava na faculdade nos Estados Unidos, um professor uma vez me disse que meu romance não era autenticamente africano. Eu até poderia aceitar que o romance tinha vários problemas, mas não tinha imaginado que eu havia fracassado em expressar algo chamado “autenticidade africana”. Na verdade, eu nem sabia o que era “autenticidade africana”. O professor me disse que os personagens eram muito parecidos com ele, um homem bem-educado da classe média. Meus personagens dirigiam carros, não estavam morrendo de fome. Não eram, portanto, “autenticamente africanos”. Felizmente, tenho encontrado muita gente que não pensa assim.

ÉPOCA – Muitas celebridades, como Madonna e Angelina Jolie, adotaram crianças africanas, como se assim estivessem ajudando a reduzir a pobreza na África. O que a senhora pensa sobre isso? 
Chimamanda – As pessoas podem e devem ter permissão para adotar crianças de onde elas quiserem, desde que sejam bons pais. Mas é ridículo pensar que você está salvando um continente ao adotar uma criança. Para ajudar o continente africano, seria melhor, por exemplo, se engajar politicamente na batalha para que os países desenvolvidos acabem com os subsídios a seus fazendeiros e dar mais importância ao comércio com a África.

ÉPOCA – Em sua opinião, o que faz uma boa ficção? 
Chimamanda – Emoção. Atenção à linguagem. Complexidade. Paixão.

ÉPOCA – Quais são seus escritores favoritos? 
Chimamanda – Chinua Achebe (Nigéria), Jamaica Kincaid (EUA), Ian McEwan (Reino Unido), Phillip Roth (EUA), Ama Aita Aidoo (Gana), Toni Morrison (EUA) e Alejo Carpentier (Cuba).

ÉPOCA – Que livros está lendo agora? 
Chimamanda – Passing (Partida), de Nella Larsen (EUA), e The bottom billion (O bilhão da base), de Paul Collier (Inglaterra).

ÉPOCA – Que autores brasileiros a senhora conhece? Quais são seus preferidos? 
Chimamanda – Jorge Amado é meu favorito. Também gosto de Dom Casmurro, de Machado de Assis, um romance de um jovem que se apaixona por uma menina muito interessante da classe baixa.


ÉPOCA – Qual foi sua impressão do Brasil? A senhora tem planos para voltar ao país? 
Chimamanda – Tive uma ótima passagem pelo Brasil. A Feira Literária de Paraty é uma das melhores do mundo. Também estive no Rio de Janeiro. Meu editor brasileiro e sua família também foram ótimos. Gostaria de voltar e conhecer a Bahia e, talvez, escrever sobre como as contribuições que as culturas primitivas dos escravos africanos ao Brasil têm sido reinterpretadas pela atual geração.

celulares na África

A revolução do SMS
O mercado africano de celulares é o que cresce mais rápido no mundo. Com aparelhos simples e comunicação baseada em mensagens de texto, a mobilidade mudou a vida de milhões de pessoas. O que a experiência da África pode nos ensinar?
Amanda RossiInfo Exame - 05/
2011
Um dia na vida de um agricultor africano não é feito apenas de trabalhar a terra e fazer a colheita. Usando o serviço de SMS de seu celular simples, ele acompanha os preços oferecidos pelos mercados da região para os produtos que cultiva. É pago com dinheiro móvel, que trocará por moeda corrente ou usará para adquirir outras mercadorias. Ele recebe, também por SMS, o dinheiro enviado pelo filho que mora na Inglaterra. E se um elefante está seguindo em direção a seu povoado, um torpedo o alerta de que terá de proteger sua plantação do estômago voraz do animal. Nada disso é previsão para o futuro ou projeção de como as tecnologias móveis contribuirão para o desenvolvimento do continente mais pobre do mundo.

Na África, este é um retrato do que já acontece em diversas regiões, em função da rápida massificação dos celulares. Há oito anos, apenas 5% da população africana possuía um celular. Esse número subiu para 41,4% em 2010. Crescimento tão expressivo fez da África o mercado que cresce mais rápido no mundo, atingindo o dobro do aumento verificado no restante do globo. Hoje, mais pessoas têm acesso à telefonia móvel do que a energia elétrica em países como Moçambique e Quênia. Existem aparelhos que podem ser carregados pelo sol e lojas que vendem tempo na tomada para completar a bateria. Em 2014, estima-se que dois em cada três africanos terão um celular.

A maior inovação vinda da África está na utilização de aparelhos simples para resolver problemas do dia a dia, principalmente usando o popular SMS (short message system). "O celular está mudando a vida das pessoas na África de forma muito mais abrangente do que nos mercados maduros", diz a analista Stephanie Baghdassarian, da consultoria Gartner. Há uma revolução móvel acontecendo no continente africano que pode ser vista nas diferentes formas de transformar um simples torpedo em ferramenta para transferir dinheiro (inclusive entre países, como Inglaterra e Quênia), fazer pagamentos, promover campanhas de saúde pública e mapear conflitos, além de acompanhar o vai e vem dos mercados, tirar empréstimos bancários e até guardar dinheiro em uma poupança. Tudo por SMS.
 “A inovação surge da escassez. Esta é talvez a lição mais importante que aprendemos com a expansão dos serviços móveis na África", afirma Ken Banks, desenvolvedor da FrontlineSMS, plataforma de envio massivo de mensagens pelo sinal de celular, utilizada em diversos países do continente para programas de saúde e educação. "Eu não posso usar meu telefone para pagar um táxi em Londres porque tenho muitas outras opções para isso. Mas se estou no Quênia, não haverá um caixa eletrônico em cada esquina e a maioria das pessoas não tem conta bancária. Mas tem um celular", diz Banks.

USO DO CELULAR CRESCE RÁPIDO
: Acesso a telefone móvel, fixo e internet na África (por 100 habitantes).

DINHEIRO MÓVEL NO QUÊNIA

Os modelos simples e baratos, que fazem apenas ligações e enviam torpedos, representam a quase totalidade do mercado africano de celulares, devido ao baixo poder aquisitivo da população. Na África Subsaariana, 490 milhões de pessoas vivem em condição de pobreza, segundo a ONU. Incrementados por serviços inovadores, esses celulares baratos se transformam em poderosas ferramentas. "Para desenvolver um sistema massivo de informação na África é preciso que ele envolva SMS", afirma Banks. "Ao optar por uma plataforma online para celulares ou por aplicativos que precisam ser baixados, exclui-se de cara um enorme contingente de pessoas. No Zimbábue, por exemplo, a penetração da internet é de 5%."
O Quênia, país do leste africano, está no topo da inovação móvel no continente. Lá surgiu o programa de dinheiro móvel mais bem-sucedido do mundo, o M-Pesa. Em quatro anos de operação teve a adesão de 35% da população do país (ou 14 milhões de pessoas) e movimenta 17 milhões de dólares por dia. "O M-Pesa criou oportunidade de negócios", disse a INFO Michael Joseph, o criador do serviço. "No início, as pessoas recebiam o dinheiro pelo celular e trocavam por moeda. Depois, passaram a guardar no próprio aparelho e trocar por uma cerveja", diz Joseph.

Além do M-Pesa, há 52 projetos de dinheiro móvel na África, mais da metade do total dos 103 existentes no mundo, segundo a consultoria Amarante. Na América Latina, são apenas 13, e no Brasil ainda estão em teste. O mercado africano é promissor devido ao baixo nível de utilização bancária. "Menos de 5% da população da África Subsaariana tem acesso a bancos", afirma Aiaze Mitha, diretor da Amarante.
Programas que utilizam o celular em áreas como agricultura, saúde e educação se multiplicam, financiados por empresas privadas, doadores internacionais e governos. Em Uganda, o projeto Amigos dos Agricultores, feito em parceria com o Google, envia por SMS técnicas de cultivo agrícola, previsão do tempo e cotações. O Esoko, software de acompanhamento por SMS das cotações do mercado, foi lançado em Gana e se espalhou para oito países da região.

Antes da utilização dos celulares, agentes da área de saúde comunitária do Malavi, pequeno país do sudeste africano, anotavam o estado de saúde dos pacientes e se deslocavam até os hospitais mais próximos, muitas vezes a centenas de quilômetros, para registrar as informações. Hoje, usam o FrontlineSMS Medic, aplicativo que transmite os dados usando mensagens de texto. No Mali, ao norte, uma ferramenta semelhante registra excelentes resultados no combate à desnutrição infantil. Quênia e Uganda usam o Ushahidi, software de mapeamento por SMS, para monitorar casos de carência de medicamentos, no programa Stop Stocks-Out.

Os torpedos se transformaram também em um meio de organização política na África. O principal exemplo é a revolta popular que ocorreu em Moçambique, em setembro de 2010, contra a inflação. Convocado por mensagens SMS anônimas, o movimento chamou a atenção do mundo devido ao poder de mobilização. "Moçambicano, prepara-te para a greve geral contra a subida do pão, água, luz e diversos. Envie para outros moçambicanos. Despertar." A mensagem levou milhares às ruas e forçou o governo a reduzir o preço dos produtos básicos.

O Gartner estima que até 2014 o número de conexões de celular na África deverá crescer 60%, passando dos atuais 530 milhões (duas vezes e meia o total brasileiro) para 724 milhões. A receita das empresas de telecomunicações também deve continuar em alta. Hoje, o total movimentado representa boa parte do PIB dos países africanos. No Senegal é de 9%; na África do Sul, 7,5%; no Quênia, 6%. A média mundial gira em torno de 3%.

O crescimento vai se ancorar na expansão da cobertura da rede e da abertura de novos mercados. "Há muita competição", diz Stephanie Baghdassarian, do Gartner. Alguns países, como a Nigéria, têm até dez operadoras competindo. Ao contrário do Brasil e de outros mercados mais maduros, o setor não é tão regulamentado e só agora surgem as primeiras iniciativas de registro de aparelhos.

As tarifas são mais baratas do que as brasileiras. Enquanto o custo de um pacote básico de celular (25 ligações mais 30 SMS) saía por cerca de 34 dólares no Brasil, em 2009, no Quênia era de 7,50 e na Nigéria de 10 dólares, segundo a ITU (União Internacional de Telecomunicações). Mas o poder de compra é bem menor e o pacote básico corresponde a 23% da renda per capita média na África.

Para servir a um mercado de tão baixa renda, as operadoras precisam oferecer serviços flexíveis. As recargas mínimas de pré-pagos, por exemplo, que atendem a 95% dos usuários, têm valores de 20 meticais em Moçambique (cerca de 1 real) e de 50 nairas na Nigéria (0,50 real), por exemplo. Em muitos países também é possível enviar crédito para o celular de outras pessoas.

DINHEIRO E SAÚDE MÓVEIS 
Conheça alguns usos inovadores dos celulares na África

Transferência de dinheiro

O "m" vem de mobile e "pesa" significa dinheiro em suaíli, língua falada no Quênia. O M-Pesa é o primeiro sistema de transferência de dinheiro por celular do mundo a operar em larga escala. Conta com 14 milhões de usuários (35% da população) e transfere 17 milhões de dólares por dia. Funciona assim: após se registrar, o usuário troca dinheiro por e-money, que pode ser enviado para qualquer celular do país e trocado novamente por dinheiro. Lojas, escolas e serviços aceitam e-money. É possível receber dinheiro da Inglaterra, com limite de mil euros por mês.

O mercado no SMS

Criado por uma empresa de software de Gana, o Esoko oferece cadastro de cotações de produtos, como os agrícolas, em várias regiões. O meio é o SMS. Ofertas para compra ou venda são cadastradas e distribuídas para os usuários. Acessível mediante pagamento de uma taxa, o sistema Esoko está em oito países.

Mensagens em massa

Em 2003, Ken Banks estava na África do Sul para criar um método de conectar uma comunidade a um parque nacional e viu no SMS grande potencial para comunicação. Naquele ano, só 5% da população africana tinha celular. Banks criou o FrontlineSMS, plataforma que usa o sinal de celular para enviar torpedos em massa, além de receber e armazenar. Hoje, o sistema é usado para monitorar eleições no Quênia, para lembrar as pessoas de que devem tomar seus medicamentos, para armazenar dados de pacientes no Malavi e para reportar violência contra a mulher no Benin ou contra crianças no Egito.

Mapeamento de problemas

O Ushahidi é um software livre criado no Quênia para mapear casos de violência após as eleições de 2008. Agora é usado em várias partes do mundo. Na Europa, reporta vazamentos de petróleo. No Haiti, localizou vítimas do terremoto. Ushahidi significa testemunho em suaíli. O usuário envia SMS com a localização do incidente. Os dados são georreferenciados e exibidos em mapa.

Programas de saúde pública

A desnutrição infantil no Mali foi reduzida com o auxílio do Pésinet. Os médicos podem monitorar dados de saúde de crianças que vivem em áreas remotas, coletados semanalmente por agentes de saúde e enviados por celular. Quando o estado de saúde é grave, os médicos enviam SMS para os agentes com os nomes das crianças que precisam ser avaliadas pessoalmente.

EXPANDIR A INTERNET É O DESAFIO DE HOJENo Quênia, a Safaricom criou um novo jeito de fazer ligação a cobrar. O toque do aparelho demora mais que o normal, indicando que a pessoa deve ligar de volta. Muitas operadoras também oferecem um tipo de SMS chamado "please call me" (por favor, me ligue), gratuito e acompanhado de anúncio publicitário. Além disso, em muitos países não existe interurbano. As chamadas dentro de qualquer cidade de Moçambique, por exemplo, têm custo local. "Todos esses serviços poderiam ser interessantes em mercados maduros, mas são desenvolvidos em países onde o dinheiro é curto e onde as operadoras precisam tornar seus produtos flexíveis para atrair os consumidores", diz Stephanie, do Gartner.

A África deu um salto direto para os celulares, sem passar pela telefonia fixa. Hoje há apenas um telefone fixo para cada mil habitantes. "Com a falta crônica de infra-estrutura, o único equipamento de comunicação que é acessível e universal é o celular", diz Mitha, da Amarante. Em 2008, o sinal de celular cobria 60% da população.

Um grande problema na África é a expansão da internet, já que menos de 5% da população têm acesso à rede. Devido à falta de infraestrutura para telefonia fixa, necessária para dial-up e ADSL, o 3G e os smartphones podem se tornar o principal meio de acessar a rede. Especialistas em telefonia móvel estão animados e acreditam que a maioria da população africana terá nos celulares seu primeiro contato com a web. "Os smarphones podem ser a única maneira para o usuário africano navegar", diz Stephanie, do Gartner.

Na África do Sul, na Nigéria e no Quênia já começa a surgir mercado para smartphones e internet 3G, mas na maioria dos países do continente o preço dos aparelhos ainda é proibitivo. Para Ken Banks, da FrontlineSMS, a África dará um grande salto quando um smartphone baixar para 30 dólares. "Os modelos mais baratos que se conectam à internet custam 100 dólares. É muito para quem vive com 2 dólares por dia." Quando os preços baixarem, o agricultor que depende do SMS para se livrar do elefante terá à disposição um mundo muito mais rico e interativo.

• 41% é a penetração dos celulares para cada 100 habitantes na África
• 95% do mercado é de pré-pagos
• 3 países (Nigéria, África do Sul e Quênia) têm a maior concentração de celulares

Compra de terras na África



Estrangeiros já compraram uma Alemanha na África

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
 22/09/2011 
Desde 2001, algo próximo a 221 milhões de hectares de terra foram vendidos, cedidos ou arrendados, a maior parte por investidores internacionais, em países em desenvolvimento. A maioria destas transações aconteceu na África. O comércio de terras no continente, nos últimos anos, já dá uma área maior que a da Alemanha. Os motivos do frenesi seriam três, segundo um relatório que está sendo divulgado pela ONG internacional Oxfam: segurança alimentar, biocombustíveis e especulação.
O fenômeno tende a ficar ainda mais forte em um mundo com população crescente e recursos limitados. A expectativa é que a economia global triplique até 2050, exigindo mais dos recursos naturais e da agricultura. A demanda maior por comida, somada às condições adversas provocadas pelas mudanças climáticas, escassez de água e competição com culturas que produzem biocombustíveis, criam um cenário pouco otimista. "É um problema muito novo, e os países não estão se dando conta da sua dimensão", diz Simon Ticehurst, chefe do escritório da Oxfam no Brasil.
"Acredita-se que as respostas virão do mercado e da tecnologia, que podem até ajudar, mas não vão resolver tudo", continua. "Há que se encontrar um equilíbrio entre estas forças e é fundamental que os países criem suas regras."
O relatório da Oxfam cita casos de apropriação de terras em Uganda, no Sudão do Sul, na Indonésia, em Honduras e na Guatemala. A questão fica ainda mais complicada porque, em muitos países, quem vive nas terras não têm título de propriedade. Em Uganda, segundo as pesquisas da Oxfam, mais de 22,5 mil pessoas teriam perdido suas casas e terras para uma empresa britânica de madeira, a New Forests Company, que nega ter expulsado as pessoas.
Segundo o estudo - intitulado "Land and Power" -, os contratos de compra e venda não costumam ser transparentes, o que dificulta a obtenção de dados exatos sobre a movimentação de terras. Informações checadas por várias fontes dão conta de mais de 1.100 negociações de terra (somando cerca de 67 milhões de hectares), nos últimos anos. "As mulheres e as populações mais carentes são muito vulneráveis a este fenômeno", diz Ticehurst. Violações de direitos humanos seriam frequentes. As comunidades locais não estariam sendo consultadas sobre os negócios e nem tratadas de forma justa.
'A lógica da produção de alimentos no mundo tem que mudar', defende Ticehurst. O caminho, acredita, passa pela agricultura familiar, sustentável e agroecológica. 'O modelo atual, baseado em grandes propriedades, monocultivos e uso intensivo de agrotóxicos está quebrado', diz ele."